terça-feira, 26 de outubro de 2010

ATURGYL

Lembro exatamente o dia em que meu vício começou. Eu tinha uns doze anos e fui dormir na casa de uma amiga. Como tenho rinite desde que me lembro sempre andei com um daqueles remedinhos de soro comigo, mas nesse dia tinha esquecido. Passei a noite desesperada, dormi praticamente sentada. De manhã cedo, liguei pra minha mãe me buscar e chegando em casa meu pai me apresentou a salvação da minha respiração: O aturgyl. Ufa!! Posso dizer que foi realmente um alívio.
Por muitos anos esse bendito remédio foi o ar que eu respirava. E não só eu, meus irmãos eram também viciados, a ponto de negociarmos uma gota a mais no vidrinho daquele que estava acabando, pra não ter problemas à noite. Isso quando essa gota não era roubada sem que o outro visse na hora do banho... era praticamente um cartel.
Meu irmão do meio, coitado, tentou até tratamento com injeção pra respirar mais naturalmente. Melhorou, mas não cem por cento, tanto que ele ainda usa. Já eu e o mais novo...remedinho no bolso ou na bolsa sempre.
Mas com o tempo (e o ressecamento das narinas), começamos a procurar algo um pouco mais fraco. Passamos por vários até chegarmos ao que usamos hoje. Bem mais light e baratinho! O bom é que agora, todos adultos, cada um pode comprar o seu sem precisar roubar.
Não me conformo de às vezes ver meu marido resfriado, completamente constipado, e nem assim querer usar o negócio. Será que ele acha que vai virar dependente como eu? Já falei pra ele que não é bem assim, são anos de prática....
O que realmente chama minha atenção é meu filho Matheus. Desde sempre alérgico também, o pediatra indicou aquele sorinho, que ele nem liga de usar. Na verdade, parece que ele até acha bacana imitar a mamãe. Pra ele, pode ser o remedinho ou um tubo de adoçante em gotas. Ele enfia a ponta no narizinho, puxa o ar e faz cara de quem está respirando bem melhor. Tal mãe, tal filho.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

BEBÊS DE CARAS

Cada vez que vou ao salão não resisto e pego as mais novas revistas de fofocas. Na verdade, devo ser uma das poucas mulheres que não tem muita paciência de ficar sentada durante horas pintando o cabelo, então elas são uma boa distração.
Enfim, hoje peguei a última revista cuja capa era uma das mais badaladas celebridades brasileiras, daquelas que faz de tudo um pouco, e nada assim muito bem.
Lá estava ela, feliz com o filhinho no colo e, claro, bem produzida. Na entrevista dizia que o bebê é super calminho, que dorme a noite toda e que não dá trabalho nenhum. Coisa boa, não? Trabalho NENHUM!
Claro que o pequeno batalhão de babás devia estar bem escondidinho atrás de alguma cortina que não aparece nas fotos. Afinal, todas as mulheres famosas têm sempre exatamente a mesma resposta quando indagadas sobre sua prole. Os bebês são praticamente de pelúcia. Nunca, nenhuma vez, em nenhuma revista eu vi uma famosa dizer que o filho chora sem motivo, que não consegue amamentar, que faz seis meses que ninguém dorme no apartamento de quinze peças. Depressão pós parto, então? O que é isso? Algo me diz que elas realmente não participam do trabalho pesado e vão repousar nos seus aposentos quando o filho começa a berrar. Com certeza até o Príncipe Williams já levou a babá à beira da loucura numa noite ou outra.
Me pergunto o porque de tanta pompa e fingimento, uma vez que, se as celebridades abrissem o jogo, poderiam até ajudar as pobres mortais como nós.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

35 e 5

Nada mais natural quando encontramos pais com bebês do que perguntar a idade deles. Dos bebês, não dos pais. Quase sempre a resposta inclui não só o ano (se já tiver), como também os meses de vida. O Matheus, por exemplo, tem um ano e quase oito meses. Um e oito, como se diz.
A curiosidade pela idade de outros bebês sempre existe e os pais muitas vezes até adivinham a idade dos pequenos, devido à prática. Essa semana no elevador do pediatra tinha uma menininha com a mãe chegando junto conosco, tão ressabiada quanto o Matheus por estarem chegando no médico, ou "naquele cara que enfia um palito na minha goela".
A mãe perguntou se o meu já tinha dois anos, pois apesar da altura da mãe, ele é grandão. Eu disse que não. "Um e oito. E a sua?" "Dois e três".
Por sorte essa história de contar os meses pára ali pelos três ou quatro anos. Um alívio para os adultos, já que nem sempre pode ser confortável contar a idade, especialmente pra nós, mulheres.
Posso dizer com segurança que não gostaria de encontrar uma conhecida no elevador e ter que dizer: "trinta e cinco e cinco" e ela responder: "Essa é uma idade linda! Já aprendeu a fazer o próprio imposto de renda?"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ACONTECEU

Finalmente, o que eu mais temia, aconteceu. O Matheus se jogou no chão do shopping depois de levar um "não". O acontecido se deu ao fato de que, passando por uma loja de chocolates que ele adora, entrou faceiro e direto no doce preferido. Tudo bem, um chocolatinho só não faz mal. Compramos e ele comeu inteiro. Logo que acabou, saiu correndo e entrou de novo na loja, mas dessa vez a mamãe disse não, pois tinha acabado de engolir um inteirinho.
Revoltado e fulo da vida, se jogou no chão e começou a chorar. Aquele tipo de manha pura, nem lágrima saía. Enquanto isso, o povo passando por nós e com toda razão pensando "que tipo de pais são esses, que deixam isso acontecer?" Confesso que se tivesse ganhado um dólar pra cada vez que eu mesma pensei isso antes do Matheus nascer, eu teria agora uma casa em Beverly Hills...
Enfim, eu e meu marido nos olhamos e, sem sucesso, falamos firme com o pequeno, que estava no universo paralelo da birra, sem tomar conhecimento da nossa presença.
O jeito foi catar o danado, que no colo deitou a cabeça no ombro do pai, no melhor estilo "como sofro" e assim foi até o carro.
Chegando em casa, agiu como se nada tivesse acontecido, como se nós não tivéssemos passado a maior vergonha em muito tempo e foi brincar alegremente com seu violãozinho. Nada como a privacidade do lar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Viagem do Papai

Demorou um pouco, mas eu finalmente entendi. Estou falando desse negócio de ter filhos. Faz todo o sentido do mundo. Eles vêm e o trabalho é tão grande, tão intenso e tão avassalador, que quem você era (ou achava que era) não serve para mais nada. Esvazia. No começo você esperneia, luta contra, tentar segurar-se ao que é (ou acha que é). Não é você. Você já não é mais. Daí cai a ficha. Em resumo, seu filho vem para mostrar que você não é você, mas algo melhor, maior e paradoxalmente menos convencido, menos arrogante. Você esvazia para depois encher-se de algo melhor, mais elaborado e mais ligado no que realmente importa. Mas tem que deixar, senão no final você se enche novamente do mesmo. E o mesmo geralmente é pior do que poderia ser. De qualquer forma, não encare isso como algum tipo de conselho viajandão-espiritual ou algo parecido. Não faz meu tipo. Mas que tem alguma coisa muito diferente por aqui desde que esse pequeno pousou há quase dois anos, isso eu garanto.