terça-feira, 9 de maio de 2017

AVÔ ESTRELA

Daqui a um mês vai fazer um ano que meu pai se foi. Ainda me sinto estranha em relação a isso, parece que ele estava aqui ontem mesmo, brincando com os meninos. Meu pai não era um homem de fazer questão de ter muitos amigos nem ser exatamente simpático com as pessoas, mas sim, ele era um ótimo avô. A maior prova disso é a falta que ele faz na vida do Matheus, meu filho mais velho. Quando o avô foi fazer uma cirurgia para retirada de um câncer na boca, o Matt sabia que ele iria passar um tempo no hospital e que iríamos vê-lo lá algumas vezes. O que era para ser um ou dois meses transformou-se em cinco, pois a operação falhou e a doença dominou o homem que um dia meu pai foi. Sempre muito agitado, independente, vivia mexendo nas coisas da casa, consertando ou lidando com alguma coisa. Era o vô Edi que fazia massa de macarrão com o Matheus aos sábados, que fazia o Gabi parar de chorar quando era bebê (com uma técnica de cobertor que era só dele), para quem eu ligava quando algum de nós estava doente, que vinha nos visitar e trazia vários tipos de comidas gostosas. Como médico, via nos olhos dele sua falta de esperança e seu desespero em sair daquela cama de hospital. Sem poder comer nem falar, fazia gestos impacientes para as enfermeiras que iam ajudá-lo com os remédios, curativos e etc. Eu só posso imaginar o quanto ele odiou esse período de estagnação, de impotência, sem ter forças nem meios de sair daquilo. A carinha do Matt quando íamos ao hospital me cortava o coração. Ainda mais para alguém perceptivo como ele. Nossas tentativas de agir de um jeito meio normal não desfaziam seu olhar de ansiedade e medo. Todos os dias ele me perguntava quando o avô ia poder ir para casa. Enfim, depois de um longo período de muito sofrimento para todos nós, ele se foi. Tão cedo, com apenas 66 anos. Algo que nunca vou esquecer foi o jeito que ele me olhou no último domingo que o visitamos. Ele manteve seus olhos nos meus por alguns minutos, muito intensamente. Foi um olhar de despedida, de ¨não se esqueçam de mim¨. Eu mantive o olhar. ¨Nunca esqueceremos, pai, não se preocupe¨. O Matt não chorou no dia que ele se foi. Chorou depois, quando sua cabecinha assimilou que não veria mais o avô, quando a saudade começou a bater. Para os meus filhos, hoje o avô é uma estrela no céu. Sempre aquela mais perto da lua, mais brilhante.